Três Anúncios Para Um Crime

Pessoas inconsoláveis fazem qualquer coisa para tentar encontrar um instante de alento. Entretanto, as atitudes tomadas neste estado podem, não apenas serem escolhas ruins, como causar efeitos colaterais que vão além do autor em questão. Três Anúncios Para Um Crime, é em parte sobre isso.

Mildred Hayes (Frances McDormand) perdeu a filha para um crime sem solução. Indignada com a falta de respostas e com a incompetência da força policial da cidade de Ebbing, Missouri, ela resolve chamar atenção alugando três outdoors e anunciando para o mundo seu questionamento direcionado à polícia.

Apesar de ser destinado pessoalmente ao Chefe de Polícia Willoughby (Woody Harrelson), responsável pela investigação, não trazer nenhuma mensagem ofensiva (é realmente apenas um questionamento), e estar situado e uma estrada fora de uso, os três anúncios para o crime causam um rebuliço na cidadezinha, que reage das mais diversas formas, de acordo com sua posição naquela sociedade. Uma comunidade povoada por personagens extremamente preconceituosos, e claro minorias oprimidas. Figuras que poderiam facilmente cair na caricatura, mas são salvas pela excelente construção de personagens, que reconhece que as pessoas são muito mais que o rótulo inicial.

Assim, o Delegado aparentemente incompetente (vivido pelo sempre competente Harrelson), na verdade luta diariamente com os revezes e falta de opções em uma vida e profissões sofridas. O policial idiota e intolerante Jason Dixon (Sam Rockwell) talvez apenas não saiba que pode tentar ser melhor que isso. Com o personagem que mais cresce durante a narrativa, Rockwell consegue gerar repulsa e empatia na mesma proporção, merecendo todo a comoção e indicações que tem atraído. E mesmo a mais caricata das criaturas, a jovem bonita e pouco inteligente Penelope (Samara Weaving, que aparece pouco, mas funciona), é claramente um fruto da sociedade que a criou, causando problemas pela completa falta de noção do mundo que a cerca.

Peter Dinklage em ponta de luxo!
O destaque entretanto é mesmo de McDormand. Mildred está longe de ser uma mãe perfeita, doce e carinhosa, também não é um exemplo de conduta como parte da sociedade, não se deixa intimidar e suas palavras duras e respostas afiadas saem tão facilmente, quanto ferem aqueles a que são direcionadas. Ainda sim por baixo dessa carapaça implacável, é possível perceber que se trata sim de uma mãe amorosa tentando fazer de tudo pelos filhos. Que ela tem ciência, e consciência, das consequências de seus atos, e até se arrepende de alguns deles. E que mesmo incansável e persistente, por vezes ela se encontra totalmente perdida. É aí que está todo o bom trabalho da atriz, ao, que deixa transparecer em nuances todos estes sub-textos, incompatíveis com as atitudes e fala afiada em foco na superfície, e que ela entrega igualmente bem.

Existe ainda todo um contexto de escassez de recursos, crenças e conceitos ultrapassados - e condenáveis - além de um comodismo crônico, que impedem a pequena Ebbing de evoluir e a transformam em um lugar atrasado aos nossos olhos (só porque nossas próprias mazelas cotidianas não estão em foco em tela grande). Assim como seus moradores, são complexos frutos de seu meio, presos em um círculo vicioso, que talvez seja quebrado pelos tais Três Anúncios Para Um Crime.


O roteiro, encaixa todos estes elementos e histórias tão surpreendentes quanto absurdas, porém coerentes entre si, mantendo um certo nível de loucura pertinente à toda a cidade. Escolhas que pontuadas por um bem colocado humor negro, tornam as péssimas escolhas dos personagens, não apenas atitudes críveis, mas passíveis de pessoas desesperançadas e perdidas.

Três Anúncios Para Um Crime (Three Billboards Outside Ebbing, Missouri)
EUA - 2017 - 116min
Drama

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