O Rastro

Sozinho o cenário já é assustador: um hospital público carioca em condições tão precárias que está prestes a ser fechado. Se precisar ficar internado lá já deixaria qualquer um com medo, imagina se incluirmos, rangidos, aparições, trilha de suspense, criancinhas bizarras...

Em O Rastro, João Rocha (Rafael Cardoso) é um médico talentoso em ascensão com um trabalho complicado. Ele supervisiona a transferência de pacientes quando um hospital carioca é fechado. Um trabalho de guerrilha considerando a escassez de vagas no sistema público. É durante um fechamento conturbado, com direito a protestos na porta do hospital que uma criança desaparece levando João à uma busca obsessiva e perigosa.

Você leu direito. Cinema nacional tem terror, sim e bem produzido. É claro, que o filme de J. C. Feyer não reinventa a roda no gênero (e acredito que não era essa a intenção), muito menos é isento de falhas. Entretanto, se conquistar seu espaço entre o público pode ser um marco do terror no Brasil, onde atualmente o únicos trabalhos relevantes são de José Mojica Marins e seu estilo peculiar e único. Falta uma produção que fale com o grande público, e o faça tomar gosto em se assustar sem legendas.

O hospital insalubre garante o visual que lembra o terror japonês, enquanto a trama segue a formula de suspense e terro comum ao estilo hollywoodiano do gênero. Inclua aqui, corredores escuros, cortes rápidos e trilha que sobe repentinamente.

A trilha sonora, aliás é o ponto fraco do filme. O conceito é interessante, usar apenas som diegéticos para criar o ambiente e todo o suspense. assim o que te deixa nervoso, é o zumbido do ventilador, o gotejar do bebedoru antigo e por aí vai. Mas a boa ideia caí por terra quando a produção volta para o clichê de aumentar absurdamente o som, no "momento de susto", e exagera nesse efeito. Causando o efeito oposto em muitos momentos, o expectador não apenas espera pelo susto, como acha graça.

De volta aos pontos positivos. O bom elenco empenhado conta ainda com Leandra Leal, Claudia Abreu, Jonas Bloch, Felipe Camargo, Alice Wegmann e Domingos Montagner. Entre figuras de autoridades, colegas de trabalho de João, ex-funcionários e médicos do hospital fechado e sua esposa, todos tem sua função incluir mais uma peça neste quebra-cabeça na obsessão de João. Ganhando ou perdendo importância conforme a trama avança

Enquanto o protagonista procura desesperadamente pela menina desaparecida. Nós tentamos decidir, se a ameaça é sobrenatural, real ou apenas uma alucinação de Jõao. Manter o expectador nessa busca, já é um mérito do filme diante de uma audiência mais que acostumada com esta fórmula hollywoodiana de terror.

O desfecho não é criativo e curioso, deve satisfazer o grande público. Embora esta blogueira que vos escreve tenha sentido uma certa indefinição quanto a real natureza da ameça. Ou qual das situações de terror o filme escolhe como predominante. Mas que isso não posso dizer sem estragar a brincadeira.

Ao final das contas O Rastro não é surpreendente, mas é competente. Entrega o que promete, e prova que o cinema nacional sabe sim produzir outros gêneros. Só precisa de mais oportunidades e prática, para aí sim surpreender o público.

O Rastro
2017 - Brasil - 110min
Suspense/Terroe

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