Logan

Não ser aquilo que fizeram de você!Este provavelmente é o principal dilema do mutante/cobaia de laboratório conhecido como Wolverine: não ser a máquina de matar que o projeto Arma X fez dele ao revestir de adamantium seus ossos. Pois este também parece ser o lema de sua mais recente aventura nos cinemas. A começar pelo título Logan, ao invés de seu tradicional “nome mutante”, e continuando até o fato de que, apesar de ter um herói dos quadrinhos como protagonista, este não é – e nem precisa ser – apenas mais um filme de super-herói.

Em 2029 os mutantes pararam de nascer há anos. Os pouco restantes são caçados pelo governo. Logan (Hugh Jackman, em sua despedida do personagem) trabalha como motorista de limusine para sustentar o nonagenário Charles Xavier (Patrick Stewart), apenas com a ajuda do frágil Caliban (Stephen Merchant). Cheios de remorso e lembranças ruins a dupla parece apenas esperar pelo fim, quando uma menina os obriga a sair da rotina. Á contragosto, Logan é forçado a proteger Laura/X-23 (Dafne Keen) do mercenário Donald Pierce (Boyd Holbrook, de Narcos).

Parece tarefa simples considerando as aventuras anteriores dos mutantes, mas não é. São outros tempos, os personagens estão mais velhos – trabalho de maquiagem excelente a ser observado – cansados, sem esperança e cheios de culpa pelos amigos que perderam. Xavier já não controla bem seus poderes, enquanto os de Logan estão enfraquecidos. A dupla pouco lembra os heróis poderosos de outrora.

Por outro lado, Laura é capaz de derrubar homens com o tripo de seu tamanho. Desconfiada, agressiva e sempre na defensiva – repare nos punhos cerrados por boa parte do filme - lembra a Logan alguém que ele já fora. Keen com uma intensidade na atuação impressionante, apresenta uma menina indomável, quase uma fera, ao mesmo tempo com a curiosidade de uma criança comum. E claro, a esperança de um futuro para os mutantes, que assim como em Filhos da Esperança de Alfonso Cuaron, haviam deixado de nascer por anos.

O que nos leva às sequencias de ação, que pela primeira vez não tem a restrição de uma classificação indicativa baixa, ou mesmo por ter uma criança em cena. Laura, aliás, protagoniza muitas das cenas violentas. A mudança só foi assegurada após o sucesso do impróprio Deadpool, mostrando que há um público adulto interessado em filmes de quadrinhos. O resultado é que os fãs finalmente vão poder vero o que acontece ao ser atingido por garras de adamantium. Algo muito diferente dos cortes precisos e sem sangue que vimos nos longas anteriores.

O tom também mudou. Mais adulto, explora as relações paternas entre Xavier e Logan e Laura. Forçados a conviver o trio reforça – ou cria no caso de X-23 – os laços que agora vão além do fato de estarem no mesmo lado da batalha. É o mais próximo que qualquer filme da franquia chegou da “família X-Men” vista nos quadrinhos.

Com muita história na bagagem dos personagens, também há espaço para ecos e lembranças das (boas) aventuras anteriores nas telas. E até menções a tramas que não acompanhamos. Oferecendo camadas, e complexidade que Charles e Wolverine raramente tiveram, e que Stwart e Jackman trabalham muito bem em cena. As referências são sutis, e funcionam para situar o longa na louca cronologia dos X-Men no cinema, sem precisar prender sua trama à ela. O filme funciona muito bem sozinho, até para quem nunca ouviu falar dos mutantes.


Logan é o filme do Wolverine sim, mas não é apenas isso. É também um faroeste, um road movie, uma ficção cientifica de futuro apocalíptico e um drama de família. Bem produzido, sem excessos ou pontas soltas é provavelmente o melhor, e com certeza o mais “singular” filme da franquia até hoje. O longa é mais do que o rótulo, “filme de quadrinhos”, que lhe conferem. E mais importante, é uma excelente despedida para esta versão do Wolverine nas telonas.

Logan
EUA - 2017 - 137min
Ação/ Ficção cientifica / Aventura


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