O Jogo da Imitação

Que a história que nos ensinam na escola não é a versão mais precisa todos descobrimos cedo ou tarde. Mas o que muita gente nunca percebe é que existem muitas histórias desconhecidas da maioria mesmo quando ainda estavam em curso, permaneceram ocultas por muito tempo. É o caso do trabalho de Alan Turing durante a Segunda Guerra Mundial.

Alan Turing (Benedict Cumberbatch) é um dos matemáticos escolhidos para decodificar intrincada máquina de criptografia chamada Enigma, usada pelos Alemães para se comunicar. Um trabalho contra o relógio, uma vez que a equipe tem apenas 18 horas a cada dia para decifra o código antes que este mude. Enquanto o resto da equipe se perde em cálculos matemáticos inúteis Turing se dedica a criar uma máquina capaz de quebrar o código.

É claro, encontrando muita descrença e empecilhos por parte de seus companheiros e superiores em Bletchley Park. Além da dificuldade óbvia em criar aquele que foi um dos primeiros computadores do mundo. Um gênio solitário, deslocado e sem tato com as pessoas, Turing tem de aprender a trabalhar em equipe.

Ao mesmo tempo que acompanhamos as dificuldades de Turing durante a 2ª GM, seguimos outras duas linhas narrativas distintas. A descoberta da sexualidade por um Turing ainda adolescente, que ao mesmo tempo descobre na matemática um recurso para compreender e esconder sua condição. E a investigação policial, que resultou em sua condenação por atos homossexuais, ilegais no Reino Unido na época.

Um quebra cabeças apresentado de forma competente, e sem furos para apresentar uma figura complexa com uma importante trajetória ainda desconhecida por muitos. Sempre competente, Cumberbatch apresenta um protagonista admirável apesar da falta de traquejo social. Inclua aqui a faceta cômica, um humor inteligente, que torna o deslocado personagem adorável.  Todos já se sentiram deslocados ao menos uma vez na vida, por isso é fácil simpatizar com Turing.

O resto da equipe é composta por alguns estereótipos, o superior casca grossa, o outro criptologista boa pinta e mais admirado que o protagonista, o espião, etc. Apesar de arquétipos, são interpretados com competência pelo elenco de talentosos nomes britânicos como, Matthew Goode, Mark Strong, Charles Dance e Allen Leech.

Já Keira Knightley, fica a cargo das mensagens feministas. Única mulher no grupo Joan Clarke, mesmo provando sua capacidade nunca é oficialmente aceita. Apesar de acompanhar a eficiência do elenco Knightley, precisa maneirar nos personagens de época e maneirismos que criou com eles. Impossível não fazer a piada quando descobrimos que o segundo nomes de Joan é "Elizabeth": outra vez?

O esforço para a reconstrução de época também é admirável. Especialmente por utilizarem usar máquinas originais da Segunda Guerra, ou versões bastante fiéis. Além de locações reais.

Resta ainda tempo para descobrir as implicações morais, criadas pelo uso da máquina, para o benefício da guerra. Tudo bem distribuído, e curiosamente, simples em se tratando de um filme sobre criptografia! É evidente que o objetivo era abranger grande público.

Existe também uma sugestão que o fato de ser homossexual, foi o que tornou Turing o excelente criptografista que era. Soa quase como um pedido de desculpas às aflições a que fora submetido após a guerra, que segundo historiadores graças a ele terminou cerca de dois anos mais cedo. Turing escolheu castração química ao invés da cadeia, mas acabou morrendo pouco depois sob circunstâncias controversas. Apenas em 2013 recebeu o perdão real, embora mesmo assim muita gente ainda não conheça seus feitos.

O Jogo da Imitação (The Imitation Game)
UA/Reino Unido - 2014 - 113min
Drama/Biografia


1 Comentários

  1. Embora o jogo Imitação é um dos meus filmes favoritos sabia que ele não iria ganhar o Oscar de melhor filme. O que eu não concordava era o prêmio de melhor ator, parece-me a interpretação de Turing Aue faz Cumberbatch é melhor.

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