Corações de Ferro

Se você já viu tantos filme sobre a Segunda Guerra Mundial, que desconfia que não há mais ângulos inéditos a serem explorados, fique sabendo: você está enganado. É de dentro do tanque chamado Fury (título original da produção), que observamos as semanas seguintes ao "fim da guerra", quando ainda haviam muitos soldados nazistas lutando pela causa perdida, em todo território alemão.

O novato Norman (Logan Lerman), é designado a substituir um dos membros da equipe do Sargento Wardaddy (Brad Pitt), que literalmente habita o tanque de guerra. Contando com Boyd "Bible" (Shia LaBeouf), Trini "Gordo" (Michael Peña) e Grady "Coon-Ass" (Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead) a equipe geralmente está em menor número. Mesmo nas raras ocasiões em que conseguem trabalhar com outras equipes.

Além dos soldados nazistas, o grupo aliado ainda precisa lidar, com uma terra devastada, com poucos recursos, cidadãos perdidos e apavorados, e lama. Muita lama. Logo não é na luta entre os mocinhos aliados e os bandidos nazi que a trama se focam, mas nas dificuldades psicológicas criadas por viver os horrores da guerra.

Enquanto Normam segue a típica jornada de perda da ingenuidade para sobreviver na batalha. Tentamos entender como cada um dos outros já perturbados modificados pela guerra lida com o stress do "dia-a-dia". Seja pela religião, pelos poucos momentos de refresco (leia-se mulheres e bebidas), ou mesmo pela determinação desmedida, que pode levar a atitudes desnecessárias. Tudo pela pátria.

Ações e emoções amplificadas pelo ambiente claustrofóbico do tanque, substituídos apenas pela desolação e morte do lado de fora. Tudo é cinza e marrom, há corpos por todo o lado, as batalhas são sangrentas e estrondosas. Uma ambientação perfeita e bem construída para servir à história.

Mas nada disso funcionaria, não fosse a atuação competente e equilibrada do elenco. Os destaques ficam com Pitt, com uma atuação sóbria e sem exageros ou maneirismos. Assim como Shia LaBeouf, mais esforçado que em atuações anteriores, e consequentemente alcançando melhor resultado. Já Lerman pode não escapar com sua cara de novato ingênuo, mas ao menos mostra que se sai bem em produções completamente distintas.

Incomoda apenas* sensação de não ter início ou fim, jomos jogados em meio ao campo de batalha, junto com o jovem Norman, sem grandes formalidades e de lá retirados sem muitas explicações posteriores. De fato nem mesmo o personagem de Lermam é apresentado tradicionalmente. É aos poucos que vamos entendendo quem é quem naquele claustrofóbico tanque. Pensando melhor, talvez a desorientação seja intencional. Mostrando a caótica condição dos soldados, que de uma hora para a outra dependem de pessoas que mal conhecem, e que podem sair da sua vida tão repentinamente quanto entraram.

Corações de Ferro pode não fazer história, ou mudar vidas. Mas tem mérito, não apenas pela produção caprichada, mas por mostrar a guerra por um novo ponto de vista.

Corações de Ferro (Fury)
EUA - 2014 - 134min
Drama/Ação/Guerra


*As trocas de tiro noturnas também incomodam. Podemos ver os projéteis, verdes e vermelhos zunindo pelo ar. Impossível não lembrar de Star Wars. Desculpa minha ignorância, mas será que era assim mesmo???

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