Malévola

A história é contada pelos vencedores, no caso de A Bela Adormecida, provavelmente por assessores de imprensa maniqueístas. Ao menos é isso que a releitura do conto dos irmãos Grimm parece defender ao apresentar uma versão diferente porém no universo extremamente familiar do clássico criado por Disney em 1959.

Funcionando também como prelúdio, o longa apresenta Malévola ainda criança (Isobelle Molloy), e apesar do nome, é protetora da floresta e de todas as criaturas mágicas em CGI que nela habitam. A grande ameaça, o homem e sua ganância. Ainda sim a menina faz amizade com Stefan (Michael Higgins na infância e Sharlto Copley na vida adulta), que para ser rei traí a confiança de Malévola (Angelina Jolie). Logo, a maldição de Malévola sobre a herdeira de Stefan, é motivada por vingança de um coração partido, e não por pura maldade.

Preocupado, além de mandar destruir todas as rocas de fiar, em uma sequencia que remete lindamente à animação de 59, o rei também deixa a proteção de sua filha à cargo de Flora, Fauna e Primavera, aqui desnecessariamente rebatizadas de Thistletwit (Juno Temple), Knotgrass (Imelda Staunton) e Flittle (Lesley Manville). Contudo o trio não é exatamente um exemplo de babá, obrigando Malévola e seu fiel escudeiro o corvo-metamorfo Dieval (Sam Riley) a acompanhar o crescimento da princesa, para que esta sobreviva o suficiente para sofrer a maldição.

Malévola não é mais puro mal, nem Stefan é o rei bom e bonachão. E até Aurora (Elle Fanning), que abençoada com "graça, beleza e tudo de bom", apesar de não conseguir parar de sorrir esboça mais camadas que sua versão em desenho. Mas o filme tem apenas 97 minutos. Com a duração de uma animação, falta tempo para explorar esses personagens mais elaborados. Assim a queda de Malévola para o lado que combina com seu nome, acontece de forma brusca e didaticamente salientada por seu figurino. A parte interessante é que a partir daí ela assume oficialmente o visual da animação, nostálgica e detalhadamente recriado para a versão live action.

O visual aliais é o ponto forte do longa. Desde figurinos e cenários que remetem ao clássico animado, aos novos que além de não destoar ainda expandem o universo. Embora o excesso de computação, possa soar um mais artificial que mágico em alguns momentos, especialmente em se tratando de algumas inexpressivas criaturas de CGI. Por outro lado o trabalho para as versões reduzidas (bizarramente realistas) das três fadas, o design de cenários, e principalmente, a maquiagem de Jolie estejam perfeitas.



Não é atoa, o diretor estreante Robert Stromberg é conhecido por seu trabalho como designer de produção (Avatar, Alice no País das Maravilhas, Oz: Mágico e Poderoso). A falha fica mesmo em sua inexperiência em desenvolver a história, criar tensão e manter o ritmo. Mesmo sabendo que Malévora morre na animação em que o longa foi inspirado, em momento algum neste longa nos preocupamos realmente com seu desfecho. Também é confusa a distribuição dos dias, quando Aurora está prestes a completar 16 anos, véspera e aniversário se misturam. E não há tempo para sofrer pela princesa já que a solução é imediatamente apresentada para manter a correria (só 97 minutos!) e levar a trama para uma gigantesca batalha clímax.


Fauna, Flora e Primavera Thistletwit, Knotgrass e Flittle, são reduzidas à um acessório para que a nossa anti-heroína estabeleça uma relação com Aurora. E mesmo o capanga Dieval é desperdiçado, único que realmente conversa com Malévora durante boa parte do filme, além de um alívio cômico natural, poderia ajudar a estabelecer as transições e criação da verdadeira índole da vilã.

Malévola, tem falhas no desenvolvimento da narrativa, mas também é tecnicamente impecável, tem belos efeitos visuais e boas atuações. Além de seguir a nova regra Disney de personagens femininos fortes e independentes, pobre Príncipe Phillip (Brenton Thwaites) aqui um mero acessório. E abusar do efeito nostalgia, para alegria de gerações que cresceram com os olhos maldosos e magia verde de Malévola. Vale apenas dispensar a versão em 3D, pois escuro e sombrio não são a mesma coisa.

P.S.: Vivienne Jolie-Pitt, que vive a versão pequena de Aurora que abraça Malévola, foi a única criança em sua faixa etária a não se assustar com o visual de Angelina como vilã. Adivinha porque?!

Malévola (Maleficent)
EUA - 2014 - 97 min
Fantasia

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