Valerian e a Cidade dos Mil Planetas

Depois de uma sequência que esclarece como uma única cidade pode ter mil planetas, somos apresentados a um belo povo de CGI - belo no melhor dos sentidos - e seu destino trágico. E então somos finalmente jogados na vida dos protagonistas, de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas.

Sim, protagonistas, no plural porque apesar do título a "parceira" do personagem que dá nome ao filme tem tanto espaço quanto ele. Não que isso seja exatamente uma grande vantagem. Valerian (Dane DeHaan) e Laureline (Cara Delevingne) são um agentes espaço-temporal que trabalham em defesa da Terra e dos seus planetas aliados.

E isso é o máximo que podemos contar do filme sem dar grandes spoilers. Infelizmente, não porquê a trama seja complexa e cheia de surpresas, mas porquê é tão simples que seu desfecho pode ser adivinhado ainda nos primeiros minutos da projeção. Já o desenvolvimento é confuso e irregular, com muitas cenas desnecessárias para a narrativa, como a primeira missão dos protagonistas. Muito longa mas que acrescenta pouco à história. Não satisfeito, o roteiro repetitivo ainda acha necessário parar algumas vezes para re-explicar tudo que vimos.

Mas uma aventura simplista não seria o maior dos problemas se você se importa com aqueles que embarcam na jornada. O que também não é o caso. Valerian e Laureline são arrogantes e cheios de si, menosprezam os companheiros de trabalho ao ponto que a maioria deles não sobrevive a uma missão ao seu lado. A escolha de elenco também não ajuda.  DeHaan tenta fracassadamente emular um bad boy ao estilo de Han Solo - aliás um desvio enorme da versão original dos quadrinhos -, mas soa apenas com um canastrão cheio de trejeitos marcados. Já Delevigne é linda, e apenas isso. Ela não consegue imprimir verdade além das caras e bocas de uma modelo em uma personagem que deveria ser uma mulher forte, inteligente e cheia de atitude. Nem precisa dizer que a dupla não tem química para o romance jogado forçadamente na cara do expectador ainda na primeira cena da dupla.

Sem acreditar naqueles que conduzem a história, fica impossível para o expectador se importar com sua história. Mas gera o fenômeno curioso de nos importarmos mais com os coadjuvantes, criados por computação gráfica, mas não o suficiente para nos apegarmos à produção. Mesmo a personagem de Rihana é mais carismática que a dupla principal, embora sua participação seja curta e completamente descartável.

A parte de tudo isso, a produção cria um universo complexo e cheio de nuances que desperdiça ao focar apenas nos protagonistas. A premissa da tal Cidade dos Mil Planetas por exemplo é excelente, uma iniciativa humana de união entre os povos que cresceu ao ponto de ter povos de muitas raças vivendo juntas. Infelizmente pouco vemos da vida em Alpha e suas centena de povos. Tudo criado com um deslumbrante e criativo design de produção, que não tem medo de soar referencial à outras obras. Vale sempre lembrar que muitas destas obras que o longa parece fazer referência como Star Wars e Gardiões da Galáxia foram na verdade inspiradas pela HQ Valérian et Laureline, no qual o longa de Luc Besson é baseado.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é baseada em um material icônico, tinha potencial inclusive para virar uma franquia, e é visualmente deslumbrante. Mas seus protagonistas chatos e sem carisma e trama boba e mal desenvolvida infelizmente impossibilitarão novas incursões neste universo rico e cheio de possibilidades. O jeito é recorrer ao material original e conhecer os verdadeiros Valerian e Laureline nas páginas.

Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (Valerian and the City of a Thousand Planets)
2017 - França - 138min
Ficção científica, Aventura, Ação

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