A Torre Negra

Dificilmente assisto filmes na TV aberta, pois fico incomodada com os cortes e saltos para que a produção caiba do espremido espaço reservado a ela na grade de programação. Ainda sim, essas versões "criadas pelas emissoras" geralmente ainda deixam uma obra coerente o suficiente para manter o espectador médio interessado. A Torre Negra, já chega aos cinemas trazendo esta sensação de obra picotada, ou no mínimo mal montada.

Jake Chambers (Tom Taylor) é um adolescente que tem pesadelos com outro mundo. Certo de que algo errado está acontecendo e sem conseguir fazer com que acreditem nele, o garoto resolve pesquisar por conta própria e acaba chegando ao Mundo Médio. Terra onde o pistoleiro Roland Deschain (Idris Elba) persegue o Homem de Preto (Matthew McConaughey), que pretende destruir a Torre Negra que protege os mundos, o nosso, o deles e muitos outros.

Um universo completamente novo promete se apresentar na tela. E as idéias estão lá, mundos paralelos, pessoas com capacidades incríveis, tecnologias que desconhecemos, magia, mas nada é devidamente apresentados. Quem são os pistoleiros, quais seus objetivos? E o Homem de Preto, quais são seus poderes? Como ele usa as crianças para destruir a Torre? E porque Jake é diferente?

E por falar em Jake, deveria ser pelos olhos dele que desvendamos este mundo, mas assim que este encontra Roland o protagonismo se divide. Não sabemos de fato quem está conduzindo a trama. E enquanto o pistoleiro não precisa explicar nada já que vive neste mundo, o adolescente por sua vez não faz as perguntas que qualquer pessoa faria. Ele nem ao menos parece deslumbrado ou confuso diante desse novo mundo, deixando o expectador à deriva nesta aventura.

Se você não entende o universo e a própria narrativa não decide o protagonista, fica difícil manter o interesse pelo que está por vir. A situação se agrava ainda mais quando pensamos nos coadjuvantes, não há nenhum temor por seu bem estar, ou mesmo impacto por sua morte. O trio principal formado por Elba,  McConaughey e Taylor tentam fazer o melhor possível com o roteiro que tem, especialmente os veteranos. Talvez isso, mantenha a atenção do público por um pouco mais de tempo.

Outro potencial desperdiçado é o visual da produção. O Mundo Médio nem de longe parece o outro universo que poderia ser. Um deserto, uma floresta, uma vila, todas poderiam estar tranquilamente dispostas na nossa Terra. É tudo muito bem executado, mas o resultado é genérico. O mesmo vale para as cenas de ação. Bem feitas, mas com um gostinho de "déjà vu".

A Torre Negra é inspirado na série literária homônima de Stephen King. Livros extensos, com uma narrativa muito rica, mas no longa é tudo muito simples. Os personagens são unidimensionais, e o problema objetivo. Um cara é bom, outro mau. Precisamos salvar o mundo deste segundo que quer destruí-lo por motivos que desconhecemos. Simples assim. Saltando de uma cena para outra, sem uma transição orgânica da trama, soa como um livro de recortes da saga literária.

Material de origem cheio de possibilidades, um bom elenco, verba para produção que durou cerca de uma década para se tornar realidade. Talvez o maior problema de A Torre Negra seja a percepção de potencial desperdiçado que ele deixa. Pode distrair alguns por um tempo, mas logo será esquecido. Também não vai agradar os fãs da saga literária, nem conquistar novos leitores curiosos. Ao menos parece já estar pronto para a exibição televisiva. A questão é: o que a TV vai cortar quando a produção chegar na Sessão da Tarde?

A Torre Negra (The Dark Tower)
2017 - EUA - 95min
Fantasia, Aventura

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