Grandes Olhos

Marido assume a autoria das obras da esposa, alcança fama, sucesso e ainda criam um nicho completamente novo de vendas para arte, o das reproduções. Sempre mantendo a sua esposa à sua sombra devidamente equipada com tintas para novas obras de arte dele.  É claro, eventualmente o relacionamento se desgasta, e a dupla vai para os tribunais provar que é o verdadeiro autor dos quadros conhecidos como Grandes Olhos. Uma história mirabolante, não fosse pelo fato de que é tudo verdade!

Margaret Ulbrich (Amy Adams) começa sua jornada em com um ato extremamente corajoso, para uma mulher dos anos de 1950. Ela abandona o marido e com nada além de um carro, a filha no banco de trás, alguns esboços e pinturas, tenta as turras sobreviver sozinha. Mas a sorte parece mudar repentinamente quando ela conhece o também pintor Walter Keane (Christoph Waltz). Não demora muito estão casados e tentando ganhar a vida com sua arte, quando "acidentalmente" Keane assume a autoria das obras da esposa.

Um drama convencional onde acompanhamos o estranho relacionamento deste casal. Keane o vigarista cheio de lábia (que Waltz já viveu algumas vezes, e até ganhou prêmios) e Margaret mulher frágil, criada no conceito de que o homem era o grande provedor da casa, e por isso deveria ser seguido. Observamos o apressado inicio de relacionamento, e a crescente desilusão e perda da ingenuidade de Margareth, até o ponto que a mentira se torna insustentável.

Acompanhando a evolução cronológica da história quase de forma documental, o foco fica nos fatos. Não sobra muito espaço para entender o que realmente move as personagens. Porque Margaret aceitou tal situação por tanto tempo. Como Keane, parece em alguns momentos acreditar na própria mentira. Ou mesmo porque o curador de uma galeria (Jason Schwartzman) que odiava keane e seus trabalhos, e tinha conhecimento da autoria real deles, nunca abriu o bico.

Existe ainda um início de discussão sobre a obra na arte na era de sua reprodutibilidade técnica. Seria arte apenas o que está nas galerias? A reprodução em massa, reduz o valor da obra, ou amplia ao alcançar grandes públicos? Mas não há tempo, ou ambição de discutir tais temas, apenas de apontá-los, para o publico pensar por conta própria.

Até aí tudo bem, um filme bem organizado e executado. Com um elenco confortável com os papéis, já que interpretaram tais estereótipos antes. Tudo de foma bem convencional, cronológica, sem excessos e até previsível. Mesmo porque a disputa nos tribunais é anunciada já nos trailers, e a história verdadeira está aí para quem quiser pesquisar. A única coisa que não encaixa é o crédito do diretor: Tim Burton.

Falta a estética e a personalidade que o cineasta costuma trazer em seus filmes. O que é curioso se considerarmos que as artes conceituais criadas pelo próprio Burton para seus outros trabalhos são visível e assumidamente influenciadas pela obra dos Keane. Nada contra um diretor se reinventar, mas tentar um novo estilo, e entregar um filme sem identidade alguma são coisas diferentes.

Narrativa, direção de arte e até a música de seu usual parceiro, Danny Elfman, nenhum aspecto se destaca na produção. À exceção da inspirada cena no supermercado, onde Margareth começa a enxergar seus quadros no mundo real. Grandes Olhos poderia ser feito por qualquer diretor competente.

Grandes Olhos (Big Eyes)
EUA - 2014 - 106min
Biografia/Drama


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