A Hospedeira

Com um pé atrás. Foi assim que fui assistir à nova incursão cinematográfica de uma obra de Stephenie Meyer (culpada por Crepúsculo). Não é que a expectativa lá em baixo ajudou (mas só um pouquinho) a obra.

No futuro a terra foi invadida e completamente controlada por alienígenas, mas nada de homenzinhos verdes, ou monstros com grande tecnologia armamentistas. Essa espécie é um parasita, que utiliza nossos corpos eliminando nossa consciência, mas mantendo nossas memórias. Os poucos humanos que sobreviveram vivem escondidos e sob a constante ameaça de serem transformados em hospedeiros.

Melanie (Saoirse Ronan), é a hospedeira do título, ela resiste ao controle de sua hóspede, Peregrina (nome nada original, mas tudo bem!). Assim as duas são obrigadas a conviver no mesmo corpo, enquanto vão em busca do ultimo grupo de humanos.

Até aí a ideia é bastante interessante, apesar da incômoda semelhança com conceitos de cientologia. Mas Stephenie Meyer deve ter problemas que insiste em resolver através da temática de seus livros. Sério que a protagonista precisava ficar dividida entre dois garotos? Melanie tem um namorado Jared (Max Irons), mas Peregrina se apaixona por Ian (Jake Abel), criando um bizarro "triângulo amoroso de 4 pessoas", que desviam a atenção de uma tentativa razoável de ficção cientifica.

Tentativa razoável sim pois basta alguns minutos a mais pensando na lógica para ficar confuso. Esses parasitas, auto-denominados "almas", não sobrevivem sem um corpo, não conseguem sem comunicar com outras espécies a menos que a esteja ocupando e até para serem transportados para um hospedeiro precisam do auxilio de pessoas com mãos e pés. São transportados em cápsulas. A não ser para fins medicinais parecem usar nossa tecnologia. Então como o primeiro hospedeiro foi transportado para um humano? E como no sistema de transporte um a um, eles conseguiram tomar quase que totalmente e de forma pacífica 6 bilhões de pessoas espalhadas pelo mundo. Especialmente em se tratando de uma espécie extremamente honesta e educada. A certa altura a protagonista pede emprestado um carro, o proprietário não apenas acredita que ela vai devolver, como até dá dicas sobre o veículo. Ainda assim esses super-educados e honestos seres não acham genocídio, se apossar de toda uma espécie.

Talvez eu esteja pedindo muito de uma ficção cientifica criada por uma autora que conseguiu arruinar toda uma mitologia. Mas a ideia era legal, custava pensar um pouco mais na coerência?

Enquanto se foca no  "triângulo amoroso de 4", o filme desperdiça bons temas como a sociedade utópica criada através do genocídio. O próprio genocídio, visto pela raça que o comete como uma "evolução". As diferenças entre os humanos explodindo em emoções e os racionais alienígenas, e as consequências que a convivência forçada pode causar em ambas as espécies.

O longa também desperdiça um elenco composto por coadjuvantes de luxo composto por William Hurt, Frances Fisher e Diane Kruger. Esta última a única que parece se divertir, afinal ela é uma vilã incansável. Os mocinhos, são apenas objetos de desejo da(s) protagonista(s), ao menos dessa vez o romance vai além de longas trocas de olhares. Enquanto a competente Saoirse Ronan é obrigada a falar sozinha durante toda a projeção.

Ainda assim, superou a expectativa (que era quase nenhuma). Em grande parte graças ao elenco talentoso, e o bom design de produção que apresenta um mundo futurista desconfortavelmente semelhante ao nosso, embora diferente.

Sim a técnica de entrar com um pé atrás funcionou. Não sai chateada da sessão, mas também não vou correr para a livraria mais próxima. Muito menos torcer para o final água-com-açúcar, trazer sequencias sem sentido.

A Hospedeira (The Host)
EUA , 2013 - 125 minutos
Ficção científica / Romance

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